Certa vez, durante a Missa, ouvi uma música do Ricardo Sá, no momento da ação de graças, que dizia assim: “Te ouvir bem mais que a mim e crer que Tua é Voz é ponto de partida”. Esse trecho ressoou em meu coração com tanta vida e concreticidade que foi inevitável não lembrar de todas as vezes que a Voz de Deus gerou um novo movimento em minha história, me fazendo percorrer estradas nunca antes imaginadas, me permitindo ser surpreendida pela ousadia de um Pai para quem nada é impossível e constatar como verdade as palavras de São Padre Pio: “a oração é a mais sólida e indestrutível base de todas as obras.” Pelo sopro do Espírito, recordei também, tempos depois, que a oração é o lugar onde se aprende a ouvir e reconhecer a Voz do Amado – como sabiamente nos ensina o Escrito Amor Esponsal, da Comunidade Católica Shalom.
Essas duas verdades – que a voz de Deus é ponto de partida e pode ser reconhecida pela oração – tornam mais clara a nossa necessidade de sermos homens e mulheres que rezam, porque é na oração que ouviremos ao Senhor, encontraremos o fio condutor que nos leva à consumação de Sua vontade e seremos, pela força da Graça, transformados em resposta viva ao mundo de hoje.
Se nos debruçarmos sobre os Evangelhos, facilmente encontraremos Jesus a sós com o Pai. Sobre isto, o Papa Francisco diz, em uma de suas catequeses, que “a oração é o leme que guia a rota de Jesus” e que “[…] Jesus mergulha na sua intimidade com o Pai, ou seja, no Amor do qual toda a alma tem sede. […]”. Há de ser por isso que, na Sexta-feira da Paixão, o Cristo angustiado perante a realidade da Cruz é o mesmo que Se deixa ser pregado nela. Porque rezava, tinha um coração saciado pela constante presença do Pai e era capaz de abandonar-Se e ir até o fim, sabendo não estar sozinho mesmo diante da Hora mais dolorosa.
Por esta experiência impulsionadora do “sim” passaram os eleitos relatados na Bíblia, bem como os santos da Igreja Triunfante; e também nós só podemos tomar nossa Cruz de cada dia se estivermos enraizados em uma autêntica vida de oração, capaz de nos transformar de dentro para fora, pois é neste espaço sagrado que nos reconhecemos filhos e entramos em diálogo cheio de ternura com Aquele que nos ama e nos encoraja a nos deixarmos ser guiados por Ele.
Nesta relação, se torna possível descansar na certeza de sermos escutados. Somos livres para desnudarmos diante do Senhor a verdade do nosso coração, mostrar-lhe as nossas chagas abertas, as fraquezas com as quais nos deparamos ao longo do caminho de conversão, as alegrias que colhemos por acreditar no Seu amor infinito, e para expormos as nossas súplicas pela humanidade, rezando também como Jesus rezou: “Pai santo, guarda-os em teu nome, para que sejam um como nós.” (Jo 17, 11). Neste clamor, nossa oração rompe fronteiras e alcança os lugares mais escondidos da terra, dando vida às palavras de Santa Teresinha, que afirmava que a oração possui dimensões geográficas, de tal forma que é possível alcançar o mundo em um segundo através dela.
Como um útero capaz de gerar e sustentar a vida de uma criança, a oração é o ventre que nutre nossa alma de Deus. É este o lugar de inauguração de toda Obra Nova para chegarmos à Meta, que é sempre Ele mesmo. “Percebemos que tudo vem de Deus e volta para Ele” (Papa Francisco). Se deixarmos que as pequenas e grandes coisas da vida passem por ela, estaremos trilhando um caminho seguro e apontado para a Eternidade: nada será fruto de nossas próprias mãos, mas terão nascido no Coração dAquele diante de quem gastamos o nosso melhor tempo, escolhendo a melhor parte… estando aos Seus pés.
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