A oração é um tema que ocupa lugar de destaque nos escritos de Santa Teresa D’Ávila. Apaixonada por Deus, Teresa O procura intensamente e ensina as suas filhas espirituais a fazer o mesmo.
Mas quem é Deus para a Doutora da Igreja? Podemos começar a refletir sobre isso dizendo quem Deus não é para Teresa: Deus não é um conceito, não é uma ideia teológica, não é um tema da oração. Teresa acerta: Deus é uma pessoa, com a qual ela se relaciona diretamente e com a qual, através da vida de oração, trilha um caminho de amizade.
“Para mim oração não é senão tratar de amizade […] com quem sabemos que nos ama”[1]. A oração aqui não é compreendida como uma repetição metódica de palavras, mas é definida por Teresa como um “Tratado de Amizade”.
Amizade que une o amante e o amado, num matrimônio espiritual. Deus é uma pessoa com a qual se pode entrar em íntima comunhão. E o caminho para essa comunhão, para essa amizade, é o diálogo de amor. Por isso afirma: “para mim, a oração não é outra coisa senão íntimo diálogo de amor”.
Em seus escritos, especialmente no Livro da Vida, vai apresentar os dois momentos principais desse diálogo: o da fala e o da escuta. Num primeiro momento o homem se dirige a Deus e lhe fala. Num segundo momento, o homem que falou agora se torna o ouvinte, e essa escuta de Deus exige esvaziamento de si mesmo, para acolher o Outro. E este não se constitui em um servo da nossa vontade, mas é o Senhor dela, o Senhor da nossa vida.
Emmir Nogueira afirma que a oração aos moldes de Santa Teresa exige uma fé simples e amorosa, uma fé de confiança e amizade, uma fé na beleza do amor correspondido[2].
O conceito de oração enquanto experiência de amizade é original em Teresa. Esse conceito, entretanto, tem referência bíblica. E a própria Teresa experimenta e apresenta Jesus “que praticava a oração estando muitas vezes a sós com o Pai, de Quem se sabia amado e preferido”[3]. No Livro da Vida, Teresa afirma que a oração é como estar a sós com quem sabemos que nos ama[4].
Cristo como sentido
Portanto, para Teresa, é Cristo a medida, o valor e a segurança da oração[5]. Seu método de oração é cristocêntrico, marcado pelos passos de Cristo, presença necessária e defendida por Ela. Cristo é a chave de compreensão de toda a sua experiência. E sua espiritualidade cristológica a levou ao desenvolvimento de uma espiritualidade humanizante. Ela rejeita a “alta espiritualidade”, na medida em que essa entendia chegar mais perfeitamente a Deus, prescindindo do que era humano[6].
Algumas reflexões de Teresa sobre a humanidade de Jesus:
– Agrada a Deus que passemos pelas mãos dessa Humanidade Sacratíssima (V 22,6);
– É porta de todos os bens (V 22,6);
– É grande coisa enquanto vivemos trazer-lhe Humano (V 22,9);
– Não querer outro caminho ainda que esteja no cume, porque por aqui vai seguro (V 22,10-11);
– Deus desperta a particularidade de cada um (V 22,12)[7].
Com efeito, Cristo é para Teresa o motivo, o sentido, a Presença necessária para a oração. Sua presença humanada é o alicerce[8], “é o que gera a oração, porque só Nele se supera todas as distâncias”[9]. Ao ignorar essa verdade e recusar a humanidade de Cristo, o orante, segundo Teresa D’Ávila, “anda com a alma no ar”[10].
Autor: Andreia Gripp
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