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A relação das aparições de Fátima com a Ordem do Carmo

Hoje, 13 de maio, a Santa Igreja celebra o dia de Nossa Senhora de Fátima, uma devoção que alcança fiéis no mundo inteiro.

A aparição que celebra-se hoje foi a primeira, das seis aparições da Virgem Maria em Fátima, Portugal (1917), mas você sabia que em uma delas, a Mãe de Cristo apareceu o Escapulário do Carmo nas mãos? 

No dia 13 de outubro de 1917, na sua última aparição na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, Nossa Senhora une três devoções: a espiritualidade do Escapulário, a oração do Santo Rosário e a consagração ao seu Imaculado Coração. Logo depois da aparição, surgiram, aos três videntes de Fátima, várias cenas. Na primeira, ao lado de São José, a Mãe de Deus, com o Menino Jesus ao colo, apareceu como Nossa Senhora do Rosário. Em seguida, surgiu como Nossa Senhora das Dores, junto com seu Filho Jesus Cristo, que padecia em meio a muitos sofrimentos, a caminho do monte Calvário. Na última visão, “gloriosa, coroada como Rainha do Céu e da Terra, a Santíssima Virgem apareceu como Nossa Senhora do Carmo, tendo o Escapulário à mão”3. Em 1950, a Irmã Lúcia foi questionada a respeito do motivo de Nossa Senhora aparecer com o Escapulário nas mãos. Em resposta, a Irmã disse: “É que Nossa Senhora quer que todos usem o Escapulário, respondeu ela”4. Providencialmente, no dia 11 de fevereiro de 1950, o Sumo Pontífice, Papa Pio XII, convidou toda a Igreja Católica a “’colocar em primeiro lugar, entre as devoções marianas, o escapulário, que está ao alcance de todos’; entendido como veste mariana, esse é, de fato, um ótimo símbolo da proteção da Mãe celeste, enquanto sacramental extrai o seu valor das orações da Igreja e da confiança e amor daqueles que o usam”5.

A Irmã Maria Lúcia do Imaculado Coração, que como Simão Stock era carmelita, disse que o Escapulário agrada o Coração de Nossa Senhora, por isso, deseja que essa devoção seja propagada. Dessa forma, compreendemos que a devoção do Escapulário faz parte da Mensagem de Fátima e, certamente, o Escapulário e o Rosário são devoções inseparáveis. “O Escapulário é o sinal da consagração a Nossa Senhora. […] Ela quer que todos usem o Escapulário”6. Ao perguntarem se podemos ter a certeza de que Nossa Senhora queria o Escapulário, como parte da Mensagem de Fátima, Irmã Lúcia respondeu: “Sim”, e acrescentou: “Agora, já o Santo Padre [Papa João Paulo II] o confirmou a todo o mundo, dizendo que o Escapulário é sinal de consagração ao Imaculado Coração”.

Segundo a Carmelita, o Escapulário é uma das cláusulas da Mensagem da Virgem de Fátima. Por isso, usar o Escapulário é tão importante quanto a recitação diária do Terço Mariano. Segundo Lúcia, “o Terço e o Escapulário são inseparáveis!”7.

Dom José Alves Correia da Silva, então Bispo de Leiria, em Portugal – que sabia claramente do vínculo entre as devoções do Escapulário e do Rosário – por ocasião do VII Centenário do Escapulário, disse aos devotos de Fátima:
“Os antigos guerreiros vestiam-se com uma armadura de ferro para resistirem aos ataques dos seus inimigos, e como nós todos temos de combater os inimigos da nossa alma, porque diz a Sagrada Escritura, ‘a vida do homem é uma guerra’, a Santíssima Virgem entregou o emblema do Santo Escapulário para também nos defender. […] Nossa Senhora recomendou também às videntes que espalhassem a devoção do Escapulário. Compete-nos, pois, como cristãos, […] a obrigação de nos afervorarmos na devoção do Escapulário.

O Escapulário tem privilégios especiais. O primeiro é a promessa que a Santíssima Virgem fez àqueles que observassem as devidas instruções, que os preservaria do fogo eterno. E claro que deveremos trazer o Escapulário não por orgulho ou superstição, mas por esperarmos, com um sincero sentimento de confiança, que a bondade de Maria Santíssima nos fará a graça da conversão e da perseverança final”8.

A espiritualidade carmelita e a consagração ao Imaculado Coração

Santa Teresa de Jesus, grande reformadora da Ordem dos Carmelitas, disse às suas irmãs: “Todas nós, que trazemos este sagrado hábito do Carmo, somos chamadas à oração e contemplação. Foi essa a nossa origem”9. A tradição dos primeiros carmelitas está ligada à vida contemplativa, mas esta se perdeu ao longo do tempo. A reforma que Santa Teresa e, depois, São João da Cruz, realizaram no Carmelo pretendia recuperar essa sua vocação à contemplação, que tem como fim último a santificação e a comunhão com Deus já aqui neste mundo. Para atingir essa união com o Senhor, é necessário esvaziar-nos totalmente de nós mesmos, dispondo ativamente o nosso coração para que Deus o purifique.

Neste processo de purificação, a devoção a Nossa Senhora é fundamental. “Desde o princípio, os carmelitas – repetindo que Carmelus totus Marianus est [O Carmelo é todo de Maria] – já se consagravam a Nossa Senhora, chegando a falar, séculos antes de São Luís de Montfort, de ‘escravidão’ à Virgem”10. Quando professavam seus votos de obediência, os carmelitas faziam-no não somente a Deus, mas também a Nossa Senhora do Carmo. Com o Escapulário, eles recordam esse compromisso e a amizade que devem ter com Nossa Senhora, imitando as suas virtudes e consagrando-se inteiramente a ela. Pois a Virgem Maria não somente é modelo de santidade, mas também coopera diretamente em nossa santificação. No entanto, para quem, de algum modo, está ligado aos carmelitas, Nossa Senhora não é somente um modelo a imitar, mas também uma doce presença materna, na qual podemos confiar.

Segundo o saudoso Papa São João Paulo II, “essa intensa vida mariana, que se exprime em oração confiante, em entusiástico louvor e em diligente imitação, leva a compreender como a forma mais genuína da devoção à Virgem Santíssima, expressa pelo humilde sinal do Escapulário, seja a consagração ao seu Coração Imaculado”11. Dessa forma, em nosso coração, realiza-se uma crescente comunhão e familiaridade com Nossa Senhora, como novo modo de viver para Deus e de continuar aqui na Terra o amor do Filho à sua Mãe, Maria Santíssima.

Esse rico patrimônio de espiritualidade mariana dos carmelitas se tornou, através da propagação da devoção do Santo Escapulário, um tesouro valiosíssimo para toda a Igreja. Pela sua simplicidade e pela relação com o papel da Virgem Maria em relação à Igreja e à humanidade, esta devoção foi profunda e amplamente recebida pelo Novo Povo de Deus, a ponto de encontrar a sua expressão máxima na festa de 16 de Julho, na Liturgia da Igreja Católica.

O Escapulário, o Rosário e a consagração ao Imaculado Coração

A Mensagem de “Fátima é, portanto, uma confirmação óbvia das antigas devoções do Rosário e do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, ambas vindas da Idade Média, quando o amor por Ela impregnava toda a vida do cristão”12. Além disso, em Fátima, a estas devoções, acrescenta-se a devoção ao Imaculado Coração, já conhecida na Igreja, mas agora revelada de uma forma nova. A consagração ao Imaculado Coração de Maria, de certo modo, aparece como nova expressão de devoção a Nossa Senhora das Dores, que foi uma das visões dos pastorinhos na última aparição de Fátima.

No dia 13 de junho de 1917, Nossa Senhora disse à pequena Lúcia: “Ele [Jesus] quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”13. Falou também que voltaria para pedir essa devoção. Em 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, na Espanha, a Virgem Maria apareceu à Irmã Lúcia com o Coração na mão, cercado de espinhos, como prometera em Fátima. Este é o mesmo coração transpassado pela espada da dor no sacrifício do seu Filho no altar da cruz. Esse sofrimento da Santíssima Virgem não foi somente de compaixão pelos padecimentos do Filho, mas, desde aquele tempo até hoje, ela também sofre por causa dos pecados da humanidade. Na mesma aparição, o Menino Jesus disse a Lúcia: “Tem pena do Coração de sua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos, que os homens ingratos, a todo momento, cravam-lhe sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar”14.

Depois de mostrar seu Coração Imaculado cercado de espinhos, Nossa Senhora revelou à então postulante Lúcia, a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês:

“Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas”15.

Portanto, depois de fazermos todo esse caminho de reflexão, podemos concluir que a devoção a Nossa Senhora do Carmo está intimamente ligada com a espiritualidade do Santo Rosário e com a consagração ao Imaculado Coração de Maria, da qual faz parte de devoção reparadora dos cinco primeiros sábados. Estas são devoções que, de certo modo, já faziam parte do patrimônio da espiritualidade da Igreja Católica. No entanto, pela Providência divina, nos foram dados a conhecer que estas não somente são queridas por Deus, mas também são os meios que nos são dados hoje para nos aproximar de Jesus e Maria e reparar as ofensas cometidas contra seus Sagrados Corações. Sendo assim, usemos com fé e devoção o Escapulário, rezemos com atenção e confiança o Santo Rosário, consagremo-nos ao Imaculado Coração de Maria e pratiquemos a devoção reparadora dos primeiros sábados. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!