A oração é uma exigência do coração humano. Seja nos momentos de maior alegria ou de maior sofrimento somos chamados e levados a nos direcionar para o céu – único caminho que temos. Somos chamados a uma profunda intimidade com Deus, isto é, somos chamados a nos configurarmos ao projeto de Deus. Devemos sim nutrir nossa alma, mas não iludir os nossos sentidos e razão, devemos, pois ser corajosos em assumir a causa da Boa-Nova.
Os nossos antecessores no Carmelo já nos ensinam que a pessoa humana na sua interioridade transcende o universo (Ratio Carmelitana). São João da Cruz nos mostra que as três dimensões física, psíquica e espiritual são um conjunto de elementos que nos auxiliam e permitem conhecer melhor o divino. Os apelos e valores naturais e espirituais nos interpelam a cada momento para vivermos a dimensão de entrega e amizade com Deus. Escutemos Santa Teresinha do Menino Jesus que nos diz: “Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria”.
Quando falamos céu, não estamos dizendo de algo abstrato ou mesmo distante da nossa realidade, nem mesmo o céu como um espaço físico, mas da vivência terrena e real. Diante dos desafios de superar as próprias mazelas e de ser misericordioso com as mazelas do mundo é que teremos a capacidade de contemplar a vontade divina. Somente estando inserido na realidade é que somos capazes de reconhecer a ação de Deus que retira as ilusões, distrações, ideologias e faz com que nos despojemos para que o Espirito Santo possa agir em nossa existência.
Devemos ter esse impulso para vivermos o céu aqui na terra. E, sobretudo para retirarmos as amarras da nossa soberba espiritual, as vendas das nossas vontades e projetos para alcançarmos pela contemplação aquilo que nos é essencial – sermos de Cristo. O Catecismo da Igreja Católica nos diz : A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes. De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso orgulho e da nossa vontade própria, ou das profundezas (Sl 130, 1) dum coração humilde e contrito? Aquele que se humilha é que é elevado. A humildade é o fundamento da oração.
Recorrendo a Santa Teresa Benedita da Cruz veremos que : “A essência mais íntima do amor é a doação. Deus que é amor dá-se à criatura que Ele mesmo criou por amor.” E mais “Para poder nos dar a Deus com amor devemos reconhecê-lo como aquele que ama.” Essa grande santa nos mostra que “Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto.” E devemos está imerso no mistério divino “Quanto mais alguém está imerso em Deus tanto mais deve sair de si, isto é, ir para o mundo a fim de levar a este a vida divina”.
Santa Edith Stein nos mostra de forma esplendida que devemos está despojados a realizar a vontade de Deus, mas para isso devemos viver essa vontade. A oração nos ajuda a sair das amarras daquilo que é egoísta, corruptível, efêmero para viver o testemunho de fé e para cumprir a vocação humana de tomar parte do reino de Deus.
Somos atraídos a caminhar conforme os designíos sagrados, isto é, escutando a voz divina que nos chama a sermos profeta. Mas, não somente escutar, mas seguir e anunciar. Cabem aqui os ensinamentos de Santa Catarina de Sena que nos diz: “Se formos o que devemos ser, incendiaremos o mundo”, não no sentido negativo, mas restaurador que se concretiza numa amizade construída pelo conhecimento mútuo e verdadeiro. Amizade que é realizada conforme uma unidade – tristezas e alegrias, luzes e trevas, humanidade e divindade.
Se colocar a viver conforme a vontade divina é de fato uma aspiração exigente, nos pede renúncias, respostas e provações. São Paulo nos diz: “sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12,12), esta é a caminhada do cristão. O cristão é fortalecido pela oração e nela encontra as respostas. Não há um modelo de vida de oração que seja comum a todos, pois cada um realiza essa experiência de intimidade com o Criador de forma diferente. O que sabemos que a humanidade anseia por está na presença do Altíssimo e isso nos é oferecido pela Eucaristia.
Quanto à vida de oração devemos está atentos, Santa Maria Madalena de Pazzi nos mostra que o retorno do homem a Deus é concebido como a luta entre dois amores: o amor próprio e o amor divino. Sabe-se que a união com Deus é uma necessidade do homem em vista de sua própria felicidade e é uma exigência do amor divino, mas, a união exige profunda purificação que assimila, libertando, mediante a prática das virtudes, sobretudo da humildade e do amor. A alma deve esta livre para que Deus habite e transforme a nossa realidade e vida. A alma deve recebê-la com humildade e abandono. Trata-se de uma renúncia que não é estática apatia, mas consiste em simples desprendimento do sujeito e permissão para deixar Deus agir. É lançar-se inteiramente em Deus. (Sendas do Carmelo)
Também o Beato Tito Bransdma ensina que devemos acima de tudo ver Deus como o fundo mais íntimo do nosso ser, escondido no elemento mais íntimo de nossa natureza. É possível vê-lo e contemplá-lo claramente tornando-o reconhecível depois de um primeiro raciocínio, ou quando nos orientamos habitualmente como uma intuição sem raciocínio repetido a cada instante. Assim nós nos vemos em contemplação contínua de Deus e o adoramos não somente no nosso ser, mas também em tudo quanto existe, antes de tudo no próximo, na natureza e no cosmo. Ele está presente em toda a parte e tudo penetra com as obras de suas mãos. Deus que habita a nossa existência, que abre no cosmo, não deve ser somente objeto de nossa intuição, mas deve também manifestar-se na nossa vida. Deve exprimir-se nas nossas palavras e ações. Deve irradiar-se de todo o nosso ser, de todo o nosso agir.
Entende-se que os nossos passos da humanidade são sustentados por Deus e fortalecidos pela graça divina. É preciso continuar a caminhada de oração com firmeza e fé. Devemos aprender a lidar com as dificuldades de forma sensata e sempre com os olhos fixos Naquele que nos chama que é Cristo. Possamos estar voltados ao discipulado e vivendo o mistério da Cruz. “O lugar de cada um de nós depende unicamente da nossa vocação. A vocação não se encontra simplesmente depois de ter refletido e examinado os vários caminhos: é uma resposta que se obtém com a oração”. (Santa Teresa Benedita da Cruz). Sejamos a presença de Cristo na Terra, sejamos a luz da escuridão do mundo, sejamos fiéis a nossa vocação agindo na total liberdade de nosso ser. Entreguemos a nossas vidas a certeza que não é em vão, mas é a busca da plena felicidade de vivermos aquilo para qual Deus nos criou – vivemos no e para o Amor.
Por Frei Renê Villela, O.Carm
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