Os carmelitas são principalmente conhecidos como pessoas contemplativas. Eles são como “abelhas que juntam o mel da doçura espiritual” (Jacques de Vitry), fascinados pela contemplação de Deus e compromissados com a oração que os une cada vez mais ao divino. Mas essa é somente uma parte do grande conceito de contemplação.
A experiência de êxtases, arroubamentos e gozos espirituais é constante em muitos santos carmelitas, assim como uma experiência de profunda união com Deus que faz apaixonar quem lê, e tudo isso são toques de Deus, pois como um Pai carinhoso Ele gosta de alegrar seus filhos. Mas a contemplação não se resume somente a experiências de gozo, como a vida de Jesus também não foi, mas também de sofrimento, que é acolhido como aliado no caminho para Deus, pois o próprio Cristo n’Ele teve participação.
Temos como exemplo os últimos anos de Santa Teresinha, que passou por uma grave doença e por uma aridez espiritual muito grande, e podemos ler: “Não penseis que nado em consolações, oh não! meu consolo é não ter consolações na terra.” (Mn B). Ela soube tirar de seus momentos de dificuldade uma maneira de se unir a Deus, pois Ela entendeu bem que sua união com Ele não dependia de bons sentimentos, mas de se confiar totalmente a Ele como uma criança, ou seja, completamente, sem medo das dificuldades, e percebendo que essas a poderiam unir ainda mais ao seu Senhor que por ela sofreu (por isso acrescentou ao seu nome “e da Santa Face”).
Tudo isso pode ser percebido na vida de qualquer pessoa, pois todos passamos por momentos difíceis, e faz parte da dinâmica da salvação, pois pedagogicamente Deus conduz cada alma pelo melhor caminho, não tirando os sofrimentos, pois eles ajudam no crescimento do cristão. O próprio Cristo alertou: “No mundo, vós tereis tribulações, mas coragem, eu venci o mundo” (Jo 16, 33).
Cabe a cada pessoa que busca a contemplação tirar proveito de cada situação, sabendo que não é somente quando sentimos (sensivelmente) que estamos próximos de Deus, mas sempre que o buscamos por amor, pois o amor conduz a um caminho interior muito mais profundo que qualquer experiência, ainda que essas, se permitidas por Deus, não devam ser descartadas, mas acolhidas como um “carinho” do Criador.
Com tudo isso, podemos perceber que a contemplação é algo muito amplo, que pode percorrer todo momento da vida de um cristão, pois ela pressupõe somente o amor a Deus e ao próximo, e aquele que verdadeiramente contempla, percebe a presença de Deus ao seu redor, seja em momentos bons, ou momentos difíceis, pois cada ação pode se tornar “um louvor da glória de Deus” (Ef 1, 12).
Que a Virgem Maria, Aquela que melhor soube contemplar Deus na pessoa de seu Filho, possa conduzir cada filho seu ao verdadeiro Caminho espiritual, e desse modo todos tenham vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10) já nesta vida, e plenamente na outra.
Por Frei Paulo Victor
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