O desafio é ao mesmo tempo entusiasmante e complexo: “criar uma aliança entre homens de pensamento, mesmo não-crentes, e teólogos para dar origem a uma nova fraternidade intelectual, necessária para trazer à tona o humano que os une”. Dom Vincenzo Paglia, arcebispo, grão chanceler do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II e presidente da Pontifícia Academia para a Vida, apresenta o apelo de dez teólogos intitulado “Salvemos a fraternidade: juntos“, escrito por motivação das duas instituições da Santa Sé presididas pelo próprio arcebispo e dirigido à Igreja universal e a todas as pessoas de boa vontade, partindo de um fato: “É o que o Papa Francisco chama de mudança de época. A pandemia revelou toda a sua profundidade e amplitude. Neste contexto histórico modificado, todos os paradigmas, estilos de vida e perspectivas devem mudar. E o Santo Padre nos mostra os caminhos a seguir com as encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti“.
O apelo está ligado a algumas das emergências mais importantes que a humanidade de hoje deve enfrentar em conjunto. Quais são elas?
Certamente a emergência ecológica. Depois há aquelas ligadas à expansão da inteligência artificial e ao surgimento de uma nova antropologia. Todos temos diferentes crenças e culturas, mas hoje é indispensável um novo esforço comum para relançar um debate que seja útil para encontrar linhas de ação comuns para intervenções.
Quais são os pontos fundamentais do documento?
O primeiro é o que indica aos teólogos católicos e cristãos a necessidade de redescobrir o impulso para repropor o Evangelho de todos os tempos em uma linguagem que seja compreensível para os homens de hoje. E isto requer uma nova elaboração do método teológico, respondendo ao convite que o Papa Francisco continua a nos dirigir para viver em saída. O outro ponto fundamental é a exortação dirigida aos intelectuais. A modernidade falhou em várias de suas promessas, começando pela da fraternidade. Deixar de lado a ideia de Deus ou do sagrado é um obstáculo à elaboração de um pensamento científico e humanista: é por isso que o encontro entre os dois polos pede a ambos que deem um passo adiante em direção ao novo humanismo ao qual devemos propender.
Qual poderia ser a base concreta para o diálogo?
A primeira fase é o encontro. O encontro e a contaminação recíproca enriquece ambos os lados. O Papa Francisco tem razão quando diz que no encontro não vence um ou outro, mas vence o encontro. O que é necessário é uma sinodalidade intelectual, uma sinodalidade entre os cultores da fé e os cultores do humano. Repito, a auto-referencialidade fecha a porta, enquanto que o confronto enriquece o outro. A cultura internacional precisa dela assim como a Igreja precisa dela.
Caso contrário, o risco é o de uma teologia que se fecha em uma torre de marfim…
Certamente. Vivemos em um momento oportuno no qual todas as ciências devem se deslocar e confrontar umas com as outras. Foi o que aconteceu quando nasceram as universidades, um lugar onde todo o conhecimento – incluindo a teologia – estava em diálogo. Em nossos dias, o risco é que uma multiplicidade de especializações impeça uma visão holística da história e do próprio desenvolvimento humano.
FONTE: VATICAN NEWS
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