Irmãos do Carmelo, salve Maria! É uma alegria poder me reunir com todos por meio do site carmelitas.org.br para refletir sobre um tema essencial para as nossas vidas enquanto carmelitas, principalmente, nesta Semana Santa.
A vivência quaresmal é um momento de preparação rumo a Semana Santa dando-se pelas vias do autoconhecimento, reflexão contemplativa, Lectio Divina, jejum e conversão que, para nós carmelitas, torna-se um aprofundamento essencial para o estilo de vida professado, comprometido e fiel na contemplação, adoração e, missão profética e fraterna. O tempo pascal é o ápice do amor de Deus, em Cristo Jesus, por cada ser humano na realização de Seu projeto de salvação universalmente. Neste período a família carmelitana (e em todos os tempos) deve, ardorosamente, responder ao chamado amoroso de Deus (que chama pelo nome), comungando desta Aliança e adotando a vida evangélica (viver em obséquio de Jesus Cristo) no testemunho, na caridade e comunhão fraterna sob o direcionamento da Ordem do Carmo, de sua Regra e em seu vocacional de “beber da fonte”.
Atualmente, fomos surpreendidos pela Covid-19, pela quarentena, e bem no exato período sagrado para a Igreja (Quaresma e Semana Santa), do ser cristão, ser igreja e ser carmelita. O que este tempo de reclusão social está ensinando, direcionando? No sentido amplo, o homem deve dar um basta na banalização à vida em todas as suas dimensões; até mesmo da “Casa Comum” (termo do Papa Francisco para a Criação). Sim, as pessoas estão indiferentes a dádiva da vida e do viver e, mutuamente, ao sentido da própria existência. Este é o alerta que este vírus está sinalizando: quando o descaso é cultivado pelo homem a vida vai deixando de existir e, conjuntamente com ela, o próprio homem.
E a espiritualidade carmelitana como está neste período?
Quarenta dias Jesus Cristo foi tentado no deserto mantendo-se fiel a comunhão com o Pai, além de outros contextos bíblicos até chegar os quarenta dias d’Ele vivenciar a Páscoa (Paixão, Morte e Ressurreição). Será que enquanto carmelitas estamos no compromisso fiel de nossa profissão, nossos votos perpétuos de beber da fonte, a exemplo da Virgem Maria, de Santo Elias e demais santos? Será que verdadeiramente, em comunhão ao Corpo Místico do Senhor, estamos praticando os carismas da oração, fraternidade e profecia na vida contemplativa – gerador da nova forma de orar, da vivência fraterna e da defesa e valor a vida? Será que em todas as esferas do viver estamos comungando a espiritualidade carmelitana? Questões essenciais para despertar esta práxis do viver em obséquio de Cristo nesta “noite escura” que biblicamente todos passaram desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento direcionando que a excelência da caridade tudo suporta, espera, compreende e alcança (cf. 1Cor 13) porque crê e continua a peregrinar ao Monte para, na experiência com o Sagrado (Eucaristia), descer e ser igreja no testemunho missionário.
A quarentena tem direcionado a essencialidade da real vida que habita em cada ser humano para o entendimento de sua dimensão fraternal e universal. A quarentena tem ensinado que a vida não é somente rosas, mas noites escuras por ser o caminho primordial para evolução humana em sua essencial vivência enquanto pessoa que é e no assumir as responsabilidades dos papéis sociais adquiridos no trilhar. A quarentena tem alertado a nós carmelitas que a dádiva da espiritualidade está no silêncio que escuta a Deus, rumina guardando no coração Seus ensinamentos e age missionariamente em prol do bem comum: a santificação.
A espiritualidade carmelitana, neste tempo de exílio (e sempre), deve ser partícipe da vida interior e social, aprimorando sua Aliança de Amor embasado na vivência dos seus carismas: a contemplação/mística (centro) que impulsiona ao entendimento e vivência do elo entre a oração e fraternidade que leva ao desabrochar da ternura. A união da fraternidade com a missão profética que faz brotar a solidariedade; e a missão profética com a oração que proporciona o florescer da justiça, dimensionando a ligação com as três estrelas guias que simbolizam Maria, Elias e Eliseu (síntese da espiritualidade carmelitana).
Ser carmelita é tudo que queremos, mas ser carmelita na práxis do Amor é transbordar o Céu na peregrinação terrestre!
Irmã Vivian Maria Felice Moreno
Ordem Terceira do Carmo da Lapa
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