Encontrar-se com Deus na solidão e no silêncio
O Carmelo, que significa jardim, é uma cadeia de colinas que termina por um promontório perto de Haifa em Israel, lugar de culto desde a antiguidade, citado pelo profeta Isaías (o esplendor do Carmelo) entre os dons de Deus a seu povo.
Cinco Séculos depois de Moisés, Elias, homem de Deus, morou aí em solidão, vestido com uma larga cintura de pele e de uma peliça, como posteriormente João Baptista no tempo de Jesus.
Com suas grutas e nascentes, tornou-se logo um espaço particularmente atraente para aqueles que buscavam encontrar-se com Deus na solidão e no silêncio. Com efeito, a Sagrada Escritura aponta o Carmelo como lugar de maturação vocacional do profeta Elias, homem de coração ardente, cujas palavras – “Consumo-me de zelo pelo Senhor dos Exércitos” (1Rs 19,10) – inspirariam o grupo de anônimos ex-cruzados vindos da Europa que, em meados do século XII – após a retomada dos Lugares Santos –, decidiram aí estabelecer-se como eremitas.
Sua vida, partilhada entre a solidão das ermidas e momentos de oração em comum numa capela dedicada à Mãe de Deus, não demorou a atrair novos seguidores e a exigir um mínimo necessário de organização. Foi por isso que, em 1209, a comunidade dos eremitas dirigiu a Santo Alberto, patriarca de Jerusalém, o pedido de que lhes escrevesse uma Regra. A partir do estilo de vida levado por aqueles homens, o santo bispo elaborou um documento simples e conciso, no qual os mínimos detalhes da vida da nova família religiosa eram todos pensados em função do ideal de “viver em obséquio de Jesus Cristo”, tendo a Virgem Maria como Irmã e Mestra.
Quando tudo parecia encaminhar-se à estabilidade estrutural, os carmelitas viram-se forçados a voltar a seus países de origem, impulsionados pelo ressurgir da ira dos mouros. De volta à Europa, aqueles religiosos desconhecidos encontraram dificuldades para ser reconhecidos pelas autoridades eclesiásticas e depararam com a necessidade de adaptar seu estilo de vida eremítico ao contexto eclesial europeu, no qual então florescia a vida religiosa mendicante, caracterizada pela vida conventual e a pregação itinerante.
Ameaçados de supressão, os religiosos vindos do Carmelo recorreram à Mãe de Deus, que – como conta a tradição – apareceu a São Simão Stock e entregou-lhe o escapulário como sinal de sua especial proteção sobre os carmelitas e garantia de que a Ordem não pereceria. Desde então, o escapulário do Carmo tornou-se testemunho do caráter eminentemente marial da família carmelita.
Procedendo às necessárias adaptações da Regra e do estilo de vida, os Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, de eremitas contemplativos que eram, converteram-se em frades pregadores reconhecidos por sua entranhada devoção a Nossa Senhora. Essa mudança de feição carismática não se trata de mera acomodação às circunstâncias, senão antes de docilidade ao Espírito Santo.
Em 1452, o Papa Nicolau IV, atendendo a um pedido do Beato Jean Soreth, Geral da Ordem, outorgou a bula Cum nulla, concedendo direito de agregação à Ordem a mulheres e leigos. Foi assim que surgiram as Monjas Carmelitas e as Ordens Terceiras, fraternidades de leigos que bebem da espiritualidade nascida no monte Carmelo.
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