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Nossa Senhora e a economia da salvação

O “sim” dessa serva fiel, supriu diante de Deus a carência das respostas de seu povo.

As pequenas e grandes manifestações de Deus na história do povo da Antiga Aliança e na economia da salvação, como um todo, possuem propósitos dignos de seu divino Autor. O Catecismo da Igreja, como sempre de forma profunda, revela algo muito belo a esse respeito:

As teofanias (manifestações de Deus) iluminam o caminho da promessa, dos patriarcas a Moisés e de Josué até às visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A Tradição cristã sempre reconheceu que, nestas teofanias, o Verbo de Deus Se deixava ver e ouvir, ao mesmo tempo revelado e ‘velado’, na nuvem do Espírito Santo” (CIC 707). Em outras palavras, tudo o que o povo da Antiga Aliança viveu de entendimento e experiência com o Criador, foi um prelúdio de tudo o que seria revelado em Cristo. O Catecismo se refere à Lei como sendo um recurso da pedagogia, da didática paciente e amorosa de Deus com Seu povo.

Esta pedagogia de Deus manifesta-se especialmente no dom da Lei. A Lei foi dada como um ‘pedagogo’ para conduzir o povo a Cristo. Mas a sua impotência para salvar o homem, privado da ‘semelhança’ divina e o conhecimento acrescido que ela dá do pecado suscitam o desejo do Espírito Santo. Os gemidos dos Salmos são disso testemunho” (CIC 708).

Portanto, regras, normas e leis mesmo de um país ou uma instituição humana qualquer, se iluminadas por princípios básicos da reta razão e dos valores da fé, são úteis para vida humana. Porém, nenhuma lei pode salvar. “É por isso que Cristo inaugura o anúncio da Boa-Nova, apropriando-Se desse passo de Isaías (Lc 4,18-19): ‘O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu. Enviou-Me a anunciar a Boa-Nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros, para proclamar o ano da graça do Senhor” (CIC 714).

O Espírito Santo ilumina, amadurece e capacita Seus destinatários a responderem aos planos e projetos de Deus, revelados em Jesus Cristo. Uma vida no Espírito é uma vida santa, conformada a Cristo.  Vemos um ícone perfeito dessa compreensão na pessoa de Maria, mãe do Salvador:

Maria, a santíssima Mãe de Deus, sempre virgem, é a obra-prima da missão do Filho e do Espírito na plenitude do tempo. Pela primeira vez no desígnio da salvação e porque o seu Espírito a preparou, o Pai encontra a morada na qual o seu Filho e o seu Espírito podem habitar entre os homens. É neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes lê, em relação a Maria, os mais belos textos sobre a Sabedoria: Maria é cantada e apresentada na Liturgia como ‘o Trono da Sabedoria’. Nela começam a manifestar-se as ‘maravilhas de Deus’, que o Espírito vai realizar em Cristo e na Igreja” (CIC 721).

O “sim” dessa serva fiel, supriu diante de Deus a carência das respostas de seu povo. Ela foi, assim, a escada celeste pela qual o Eterno desceu até nós. Pôde então, por ação da graça, ser também a escada cujos degraus, santos degraus, nos levam até Ele: “O Espírito Santo preparou Maria pela sua graça. Convinha que fosse ‘cheia de graça’ a Mãe d’Aquele em Quem ‘habita corporalmente a plenitude da divindade’ (Cl 2,9). Ela foi, por pura graça, concebida sem pecado, como a mais humilde das criaturas, a mais capaz de acolher o dom inefável do Omnipotente. É a justo título que o anjo Gabriel a saúda como ‘Filha de Sião’: ‘Ave’ (= ‘Alegra-te’). É a ação de graças de todo o povo de Deus, e, portanto, da Igreja, que ela faz subir até ao Pai, no Espírito Santo, com o seu cântico, quando já portadora, em si, do Filho eterno” (CIC 722).

Por meio dessa serva fiel Deus, consuma-se e concretiza-se tudo o que o Senhor começou a realizar por meio da Lei e dos profetas. Por isso, podemos dizer que ela é o canal de todas as graças. Se Jesus, a maior graça, veio por meio dela, então devemos supor que as menores também vêm através dela. Se Deus se valeu desse caminho, seríamos loucos se fossemos atrás de outros.