Devido a constantes investidas contra a unidade que a Igreja sofreu ao longo dos séculos, o Catecismo não poderia se omitir sobre o assunto, por isso, dedica algumas páginas sobre esse tema:
“De fato, ‘nesta Igreja de Deus una e única, já desde os primórdios surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis. Nos séculos posteriores, porém, surgiram dissensões mais amplas. Importantes comunidades separaram-se da plena comunhão da Igreja Católica, às vezes por culpa dos homens duma e doutra parte’. As rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo (a saber: a heresia, a apostasia e o cisma) devem-se aos pecados dos homens: ‘Onde há pecados, aí se encontra a multiplicidade, o cisma, a heresia, o conflito. Mas onde há virtude, aí se encontra a unicidade e aquela união que faz com que todos os crentes tenham um só coração e uma só alma’” (CIC 817).
É belo notar, nesse ponto, como a postura da Igreja, embora firme em sua própria identidade, não deixa de reconhecer os sólidos aspectos que ainda a mantém unida a esses irmãos separados, tais como a fé em Cristo e nas Sagradas Escrituras. A unidade é um componente fundamental da fé cristã. O Salvador consolidou esse dom, colocando-o como um fator essencial na relação entre os fiéis que aderiram à mensagem do Seu Evangelho.
A Igreja lembra ainda dos fiéis que já nasceram e foram educados nessas comunidades separadas dizendo: “Os que hoje nascem em comunidades provenientes de tais rupturas, ‘e que vivem a fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da divisão. A Igreja Católica abraça-os com respeito e caridade fraterna […]. Justificados pela fé recebida no Batismo, incorporados em Cristo, é a justo título que se honram com o nome de cristãos e os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos legitimamente como irmãos no Senhor’”(CIC 818).
A Salvação e promessas feitas por Deus em Jesus Cristo à sua Igreja, também os alcançam. E por quê? Veja o que diz o Catecismo: “Além disso, existem fora das fronteiras visíveis da Igreja Católica, ‘muitos elementos de santificação e de verdade’: ‘a Palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis’. O Espírito de Cristo serve-Se destas Igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos estes bens provêm de Cristo e a Ele conduzem e por si mesmos reclamam ‘a unidade católica’” (CIC 819).
Essa compreensão da Igreja, respondendo às interrogações dos fiéis católicos sobre os fiéis de outras denominações, já se é possível notar também numa das lições que Jesus Cristo deu aos Seus apóstolos, quando eles viram outros indivíduos realizando obras em nome do Mestre. “João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque não anda conosco’. Jesus disse-lhe: ‘Não o proibais, pois quem não está contra vós, está a vosso favor” (Lc 9,49). Essa busca pela unidade será sempre um dos principais esforços da Igreja:
“A preocupação em promover a união ‘diz respeito a toda a Igreja, fiéis e pastores’. Mas também se deve ‘ter consciência de que este projeto sagrado da reconciliação de todos os cristãos na unidade duma só e única Igreja de Cristo, ultrapassa as forças e capacidades humanas’. Por isso, pomos toda a nossa esperança ‘na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para conosco e no poder do Espírito Santo’” (CIC 822).
Há momentos em que a unidade é mais simples e prazerosa. Há outras ocasiões, porém, onde ela é complexa e comporta cruzes e abaixamentos. Por isso, a oração de Cristo presente no Evangelho, deve estar não só em nossos lábios, mas também no coração: “Pai que eles sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que o mundo creia” (cf. Jo 17,20-26). O maior sentido da unidade é a evangelização. É para que o mundo creia!
Que Deus nos ajude a sempre zelarmos por esse dom. “Para que o mundo creia”.
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