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Quaresma: o desejo de conversão se torna concreto na correspondência ao amor de Deus

A fé é o encontro com a Misericórdia

O Santo Padre se deteve em três expressões que explicam o significado do Sacramento da Reconciliação. A primeira: “abandonar-se ao Amor”; a segunda: “deixar-se transformar pelo Amor”; e a terceira: “corresponder ao Amor”.

Abandonar-se ao Amor significa fazer um verdadeiro ato de fé. A fé nunca pode ser reduzida a uma lista de conceitos ou a uma série de afirmações em que acreditar. A fé se expressa e se compreende dentro de uma relação: a relação entre Deus e o homem e entre o homem e Deus, segundo a lógica do chamado e da resposta: Deus chama e o homem responde. A fé é o encontro com a Misericórdia, com o próprio Deus que é Misericórdia, e é o abandono nos braços desse Amor misterioso e generoso, do qual tanto precisamos, mas ao qual, às vezes, temos medo de nos abandonar.

Segundo o Papa, “a experiência ensina que quem não se abandona ao amor de Deus acaba, mais cedo ou mais tarde, abandonando-se a outra coisa, terminando “nos braços” da mentalidade mundana, que no final traz amargura, tristeza e solidão. Portanto, o primeiro passo para uma boa Confissão é o ato de fé, de abandono, com o qual o penitente se aproxima da Misericórdia. Todo confessor deve ser sempre capaz de se surpreender com os irmãos que, pela fé, pedem perdão a Deus e, somente pela fé, se abandonam a Ele, entregando-se em Confissão. A dor pelos próprios pecados é o sinal de tal abandono confiante ao Amor”.

Deixar-se transformar pelo Amor, pela Graça

Viver a Confissão desta maneira significa deixar-se transformar pelo Amor, esta foi a segunda expressão refletida por Francisco. “Sabemos muito bem que não são as leis que salvam: o indivíduo não muda por causa de uma árida série de preceitos, mas por causa do fascínio do Amor percebido e oferecido livremente. É o Amor que se manifestou plenamente em Jesus Cristo e em sua morte na cruz por nós”, disse ainda o Pontífice, acrescentando:

Assim o Amor, que é o próprio Deus, se tornou visível aos homens e às mulheres, de uma maneira antes impensável, totalmente nova, capaz de renovar todas as coisas. O penitente que encontra, na conversa sacramental, um raio desse Amor acolhedor, se deixa transformar pelo Amor, pela Graça, iniciando a viver essa transformação do coração de pedra em coração de carne. É assim também na vida afetiva: somos transformados pelo encontro com um grande amor.

“O bom confessor é sempre chamado a perceber o milagre da mudança, a ver o trabalho da Graça no coração dos penitentes, encorajando o máximo possível a ação transformadora. A integridade da acusação é o sinal desta transformação que o Amor realiza: tudo é entregue para que tudo seja perdoado”, disse ainda o Papa.

Mudança de vida

A terceira e última expressão é: corresponder ao Amor. “O abandono e o deixar-se transformar pelo Amor têm como consequência necessária uma correspondência com o amor recebido. O cristão tem sempre em mente as palavras de São Tiago: «Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé.»”

O verdadeiro desejo de conversão se torna concreto na correspondência ao amor de Deus recebido e aceito. Trata-se de uma correspondência que se manifesta na mudança de vida e nas obras de misericórdia que se seguem. Quem foi acolhido pelo Amor, acolhe o irmão. Quem se abandonou ao Amor, consola os aflitos. Quem foi perdoado por Deus, perdoa seus irmãos e irmãs de coração.

Segundo Francisco, “o bom confessor sempre indica o indispensável amor ao próximo, como um exercício diário no qual se treina o amor por Deus. O propósito de não cometer pecado novamente é o sinal da vontade de corresponder ao Amor. Assim, a frequente celebração do Sacramento da Reconciliação torna-se, tanto para o penitente como para o confessor, um caminho de santificação, uma escola de fé, de abandono, de mudança e de correspondência ao Amor misericordioso do Pai”.

Não causar dor

São muitas as recomendações feitas por Francisco aos confessores aos quais ele convidou a “serem misericordiosos” que “significa ser irmão, pai e consolador”. Uma “atitude religiosa que nasce da consciência de ser pecador perdoado que o confessor deve ter”, afirmou o Papa.

Acolher em paz, acolher com paternidade. Cada saberá como é a expressão da paternidade: um sorriso, olhos em paz. Acolher oferecendo tranquilidade, e depois deixar falar. Às vezes, o confessor percebe que há certa dificuldade em ir adiante com o pecado. Se você entendeu, não faça perguntas indiscretas.

Deter-se para “não lhe dar mais dor, mais tortura” e sem perguntas inúteis, evitando parecer “o xerife que vai torturar”.

O Papa concluiu, convidando os confessores a “confiarem o ministério da reconciliação à poderosa proteção de São José, homem justo e fiel”.