Caros irmãos e irmãs, hoje a Santa Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz. O que é celebrar a Exaltação da Santa Cruz? É exaltar o amor de Deus por toda a humanidade na pessoa do seu Filho Jesus Cristo crucificado, morto e ressuscitado por nós. Nesta festa, todo cristão católico é convidado a olhar para o Lenho Sagrado não como sinal de derrota, mas como uma prova de amor e vitória. O Filho de Deus que veio morar em meio à humanidade pecadora se fez em tudo semelhante aos homens exceto no pecado. E para redimir a criatura manchada pelo pecado original, se humilhou até a morte e morte de cruz (Fl 2,2-8). Essa foi a maior prova de amor que alguém pôde oferecer a outra pessoa. Cristo o fez por primeiro e fazendo isso nos deixou também o exemplo que cada um de nós temos que seguir doando as nossas vidas em favor daqueles que mais necessitam.
No tempo de Jesus a morte em uma cruz era destinado apenas aos ladrões, malfeitores e blasfemos. Cristo, o Filho do Homem, foi condenado a esse tão doloroso suplício porque se auto intitulou Filho de Deus. Ou seja, a verdade que Ele falou diante dos chefes religiosos de sua época causou espanto e foi ouvida como blasfêmia e, por isso, o crucificaram.
Hoje, em pleno século XXI, muitas pessoas são “crucificadas” por falarem a verdade. De leigos a religiosos, a perseguição continua. Parece que os inimigos de Cristo persistem em crucificar os seus seguidores por optarem em seguir a Verdade. No entanto, aqueles que seguem essa Verdade que é Jesus e são perseguidos herdarão a vida eterna como Ele mesmo prometeu. (Mc 10,30).
Com o salmista cantamos: “Adoramos, Senhor, vosso madeiro, vossa ressurreição nós celebramos. A alegria chegou ao mundo inteiro, pela cruz que nós hoje veneramos”. (Antífona do cântico evangélico da oração das Laudes do dia de hoje).
Sim! Como nos diz a antífona, adoramos o Madeiro pelo qual nos veio à remissão das nossas culpas. Adoramos o Filho de Deus feito oblação por cada um de nós. Olhamos para o madeiro que nos trouxe a vida. De uma árvore outrora no paraíso nos veio a morte, desta que adoramos na cerimônia da Sexta-feira Santa e que hoje, de modo mais festivo, exaltamos e lhe cantamos louvores nos veio à vida nova e nós fomos libertados das cadeias da morte.
As leituras desse dia festivo nos convocam a ver na cruz do redentor a expressão do amor misericordioso de Deus para com o seu povo. Desde o Antigo Testamento até Jesus Cristo, Deus nunca deixou de agir de misericórdia para com aqueles que Ele ama.
O autor sagrado entoa no salmo da missa de hoje pedindo ao povo que jamais se esqueça das Obras do Senhor. Não podemos esquecer o que foi feito por cada um de nós. Estávamos perdidos no pecado e na morte e o Senhor nos resgatou quando ainda éramos escravos. Pela morte de seu Filho as cadeias que nos prendiam caíram e fomos libertados de toda escravidão.
Na liturgia ainda nos é mostrado a Cruz como sinal de cura e de remédio para nossas almas manchadas pelo pecado. Assim como Moisés no deserto levantou a serpente de bronze em uma haste e toda pessoa que era mordida por uma cobra olhando para ela ficaria curada (Num 21,4b-9), da mesma forma o Filho do Homem foi suspenso em uma Cruz para que, também, nós, ao contemplá-lo transpassado pela lança, fôssemos curados das nossas feriadas causadas pelo pecado e assim libertados do mal que nos aprisionava.
Existem pessoas que preferem a Cruz distante de suas vidas, pois falar de Cruz é falar de sofrimento, de morte, de dor. Até mesmo pessoas que se dizem cristãs mostram esse comportamento e ainda dizem: “Creio no Cristo, mas não quero ouvir e nem ter cruzes (sofrimentos) na minha vida”.
Parece que esse Cristo que ressuscitou ao terceiro dia não passou pelo sofrimento de Cruz. A vida do cristão que verdadeiramente segue o Filho de Deus passa do começo até o fim pela sombra da Cruz, assim como se passou na vida de Jesus. Foi Ele próprio que disse: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. (Lc 9,23-26). A história do cristianismo passa pela Cruz que gera vida derrotando as cadeias da morte e dos infernos.
Uma grande santa do Carmelo que não era cristã, mas judia percebeu essa característica principal do cristianismo. Via na Cruz aquilo que os primeiros cristãos sempre tiveram diante de si, ou seja, a esperança, a vida, a ressurreição. Santa Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein) viu diante do sofrimento do seu povo judeu oprimido, perseguido e exterminado pelo regime nazista, que no sofrimento de cada um estava presente a Cruz de Cristo.
Após sua conversão ao cristianismo Edith Stein compreendeu mais de perto o que realmente é tomar a Cruz e seguir os passos de Jesus. Ela mesma sentiu na própria pele esse tomar a Cruz e seguir o Cristo. Seu martírio no campo de concentração foi a sua entrega total ao chamado que Cristo a fez quando colocou em seu coração o desejo de ser carmelita. Sim, ela, Teresa Benedita da Cruz, entendeu o que ela mesma disse: “Salve ó Cruz, Esperança Única”. Ela soube abraçar a sua cruz e seguir Nosso Senhor.
E, nós, em pleno século XXI, o que estamos fazendo com nossa cruz? Será que ouvimos com clareza as Palavras do ressuscitado e vencedor da morte que nos convida a segui-lo, mas carregando também as nossas cruzes? Somente pela Cruz, meus irmãos, é que chegamos a Luz verdadeira. Não existe vida nova sem a presença da Cruz.
Que esta Festa da Exaltação da Santa Cruz em plena pandemia possa nos colocar em alerta de querer, a cada dia de nossas vidas, renunciar a nós mesmos e seguir o Salvador. E seguindo-o, também poder ver Nele o irmão que sofre e que também tem cruzes, muitas vezes maiores que as nossas. Que possamos juntos com Santa Tereza Benedita da Cruz dizer todos os dias: “Salve ó Cruz, Esperança Única!”.
Que Maria Santíssima da qual as Dores amanhã, dia 15, celebraremos, rogue por todos nós cristãos, para que sejamos homens e mulheres comprometidos com a vida, vida esta que passa sempre pela Cruz até a Ressurreição. Deus nos abençoe hoje e sempre.
Frei Ivanildo Justino, O. Carm.
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