Servir a Jesus com alegria. Esta deve ser a motivação de cada cristão e cristã, servir o Senhor. “É livre na liberdade de Deus, que se realiza no amor. E esta é a liberdade que Deus nos dá, e nós não podemos perdê-la: a liberdade de adorar a Deus, de servir a Deus e servi-lo também nos nossos irmãos”. (Papa Francisco) Tomando os relatos evangélicos, percebemos que aqueles que serviam a Cristo tinham uma alegria diferente. Também os apóstolos contagiam pela sua alegria em servir o Senhor (Atos 5,40-42). Desde o início a alegria é uma marca da Igreja. Sem alegria não há Espírito Santo. E sem ela, não há como ser coerente com o Senhor (Dt 28,47). Os santos bebem desta exultação e impulsionam a Igreja por onde passam a viver constantemente nesta festa do céu: “Um santo triste é um triste santo” (São Francisco de Sales). O Carmelo guarda joias raras, entre elas está Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Primeiramente um ser humano feliz, depois uma monja alegre. Sua festa na terra acontece por sentir-se chamada por Deus a espalhar amor.
Santa Teresinha nasceu santa? Não! Santa Teresinha quis ser santa? Sim! (Manuscrito C,1). Então precisamos querer e nos esforçar, confiando sempre na Graça de Deus, que podemos ser santos. É desejo de Deus para cada um de nós: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).
Salmo 42,4 – Irei ao altar de Deus que é minha alegria e meu júbilo…
Santa Teresinha era bem novinha, mas determinou sua vida a viver as coisas do alto (Col 3,1). Não existe idade para começar a busca de Deus. Ela entrou para o Carmelo com 15 anos. No Carmelo viveu o seu caminho de Santidade. Onde estamos, temos vivido o caminho de santidade? “Servir ao Senhor com alegria, ide a ele cantando de alegria” (Salmo 100,2).
O amor de Deus por nós é eterno. Sua iniciativa é sempre de nos salvar. Deus ama o seu povo, por isso nos deu seu Filho Único. Deus se alegra com nossas vitórias, fica feliz com nossa conversão. Deus também se alegra, sempre que fazemos o bem, sempre que abandonamos o pecado. Todas as vezes que optamos pela verdade, pelo amor e pelo perdão, Deus se alegra.
O caminho do Amor – é o caminho simples da pequena via. Santa Teresinha quer subir ao céu com Jesus e viver com ele, mas precisa antes passar pela “noite escura”. O elevador que Teresinha fala é a graça de Deus, por ela só os pequenos entrarão: “Deixai as crianças, e não as impeçais de virem a mim; porque a pessoas assim é que pertence o Reino dos céus” (Mt 19,14). Com o desejo de ser Tudo, Teresinha descobriu que sendo o Amor no Coração da Igreja realizaria seu sonho. O amor que suporta tudo, amor que perdoa tudo! Sua vida foi uma intensa lição deste texto bíblico de Paulo aos Coríntios. Ainda bem jovem ao entrar no Carmelo de Lisieux, descobre que ali encontrará o seu céu. Quem muito ama, vive o céu já na terra.
Santa Teresinha encontrou dificuldades? Sim! Como as superou? Amando! Já pensou se você sentisse muita fome, e não tivesse o que comer por um longo período? O que lhe aconteceria? Morreria! Não amar é não se alimentar. Caso Teresinha estivesse no Carmelo e não amasse, morreria. Mas esta morte é interna. Morte da alma. Viver num estado vegetativo. Tem muita gente que deixou de alimentar-se do Amor e por isso, vive como mortos. O pai que deixou de ser pai, a mãe que deixou de ser mãe, os profissionais que deixaram de trabalhar por vocação, os religiosos que também deixam o carisma morrer… É o Amor de Deus em nós, sua vida em nós, que nos anima, nos encoraja, nos corrige, perdoa, afasta o inimigo, ilumina o pensamento, as decisões. Santa Teresinha escreve em seu Manuscrito B, dirigido a Irmã Maria do Sagrado Coração, que Deus é Sol, que ela é passarinho, que existem águias, que voam longe, rápido, que tem força, mas ela é um simples serzinho que fitando seus olhos no divino Sol, recebe dele Amor. Reconhece que o Amor está sempre ali, e mesmo que venha as tempestades, ela insistirá em olhar para o Sol, mesmo que fuja à fé.
“Como pode uma alma tão imperfeita como a minha aspirar à plenitude do Amor?… Ó Jesus! Meu primeiro, meu único Amigo, Tu que amo UNICAMENTE, dize-me que mistério é esse. Por que não reservas essas imensas aspirações para as grandes almas, para as águias que planam nas alturas?… Quanto a mim considero-me apenas como um fraco passarinho coberto só de leve penugem, não sou uma águia, dela só tenho os olhos, e o coração, pois apesar de minha extrema pequenez ouso fixar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si todas as aspirações da águia. O passarinho quer voar para esse Sol brilhante que encanta seus olhos, quer imitar as águias, suas irmãs, que vê alçar-se até o foco divino da Trindade Santíssima… ai! O que pode fazer é abrir as asinhas, voar, porém, não está em sua mínima capacidade! O que será dele? Morrer de tristeza por não se ver tão impotente? Oh não! O passarinho nem vai ficar aflito. Com audaz abandono, quer ficar fitando seu divino Sol; nada poderá assustá-lo, nem o vento nem a chuva, e se nuvens escuras vierem esconder o Astro de Amor o passarinho não trocará de lugar. Sabe que além das nuvens, seu Sol continua brilhando, que seu brilho não poderá eclipsar-se. Às vezes, é verdade, o coração do passarinho é investido pela tempestade, parece não acreditar que existem outras coisas além das nuvens que o envolvem. Esse é o momento da felicidade perfeita para o pobre serzinho frágil. Que felicidade para ele ficar ai, assim mesmo; fixar a luz invisível que foge à sua fé!!!… Jesus, até agora, compreendo teu amor para com o passarinho, pois ele não se afasta de Ti…”[1]
A missionária do Amor, depois que entrou para o Carmelo nunca mais o deixou. Junto com outras irmãs, de sangue e de carisma, enfrentou desafios internos e externos, mas sempre fitando seus olhos em Cristo. Ela que desejou ser tudo, estava agora “presa” no Convento. Qual o mistério escondido? Patrona das missões sem jamais ter saído dos claustros de Lisieux? “Essa vocação é a do Carmelo, pois a única finalidade das nossas orações e dos nossos sacrifícios é ser apostolo dos apóstolos, rezando por eles enquanto evangelizam as almas por suas palavras e, sobretudo, por seus exemplos”[2]. Santa Teresinha, missionária do Amor de Deus, entendeu que a sua vocação era a de rezar pela santificação dos Padres. Santa Teresinha usou da oração e dos pequenos sacrifícios, como principais instrumentos de sua missão.
“O zelo de uma carmelita deve abranger o mundo, espero, com a graça divina, ser útil a mais de dois missionários, e não poderia esquecer de rezar por todos, sem deixar de parte os simples padres cuja missão é, às vezes, tão difícil de cumprir quanto a dos apóstolos que pregam para infiéis. Enfim, quero ser filha da Igreja como era nossa Madre Santa Teresa e rezar nas intenções do nosso Santo Padre, o Papa, sabendo que as intenções dele abrangem o universo. Eis a meta geral da minha vida, mas isso não teria me impedido de rezar e unir-me especialmente às obras dos meus anjinhos queridos se tivessem sido sacerdotes. Pois bem! Eis como me uni espiritualmente aos apóstolos que Jesus me deu como irmãos: tudo o que me pertence, pertence a cada um deles, sinto muito bem que Deus é bom demais para fazer partilhas, é tão rico que dá sem medida tudo o que lhe peço…”[3]
Esse ardor missionário de Santa Teresinha tem por conta seu grande amor pela Igreja. Um coração que muito ama, pode traspor muros, cidades, países, continentes, com um e mesmo objetivo: fazer Jesus amado. Este coração que arde pela missão nos claustros do Carmelo de Lisieux confirma dia após dia seu desejo de no céu continuar a fazer o bem na terra. A irmã Carmelita Augusta de Castro e o Frei Carmelita Emanuele Boaga, copilaram algumas experiências missionárias de Santa Teresinha no seu livro A Caminho com Teresa do Menino Jesus:
- A oração pela conversão de Pranzini (Ms A, f. 46r), antes ainda de se fazer Carmelita;
- A correspondência e interesse pelos “irmãos” sacerdotes missionários (Pe. Mauricio Bellière dos Padres Brancos e Pe. Adolfo Roulland, missionário na China). Nesta correspondência revelava toda a sua alma missionária: “trabalhemos juntos na salvação das almas. Não temos senão o dia único desta vida para salvá-las e assim dar ao Senhor as provas do nosso amor” (CT 189).
- O trabalho junto dos seus irmãos espirituais pela salvação das almas: “Unidas em Jesus, as nossas almas poderão salvar muitas outras… o que nós desejamos é poder trabalhar pela sua glória, amá-lo e fazê-lo amado. Como poderia deixar de ser bendita a nossa união e a nossa oração?” (CT 220; e também CT 201 e 226).
- O passeio no jardim para diminuir a fadiga que os missionários sofrem em suas viagens (DE/APT 1182).
- O sofrimento quando sabe que em Roma se luta contra o Papa (CT 121).
- O desejo de morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja (Ms B, f.2v).
- A inspiração para se reconhecer em todos os membros da Igreja: “Considerando o corpo místico da Igreja, não me reconhecera em nenhum dos membros descritos por São Paulo, antes queria me reconhecer em todos” (Ms B, f. 3v)[4].
Este amor de Teresinha pela missão caracteriza sua mais profunda convicção de que Deus nos amou por primeiro e enviou seu Filho para nos salvar. Esta “dívida” de amor para com Deus se paga amando. Quanto mais nossos corações são levados ao encontro do outro, também nossos pés irão. Deus enviou, Jesus enviou, a Igreja nos envia, a pregar o Evangelho e anunciar que o Reino de Deus está próximo, anunciar o Deus deste Reino, e o amor deste Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus fez de sua breve vida, 24 anos, um cântico de amor a Deus. Inspirados neste “rastro” de Deus no Carmelo, permitamos que o Amor seja o centro de nossa alma, que jamais substituamos a Trindade, pela idolatria; passarinhos na mão do Senhor, ousemos cantar sua eterna misericórdia que em nós fez e faz maravilhas.
Santa Teresinha morreu no dia 30 de setembro de 1897 e suas últimas palavras foram: “Meu Deus, eu vos amo!”. Sua breve vida “missionária” na contemplação do Carmelo de Lisieux, nos deixou o que de mais belo poderia esperar de uma alma pura, o amor de Deus que nos leva para o céu. O missionário leva primeiramente a sua experiência de Deus e não propriamente Deus, pois Deus ali já se encontra. A pureza de Santa Teresinha foi marcada por noites escuras profundas, sem nunca, todavia, deixar de amar a Deus. Sua doença castigou seu corpo, mas fez crescer muitas que a acompanharam em seu leito de dor. A dor do missionário, seu sofrimento, sua noite escura, também é uma forma de falar de Jesus, por isso evangeliza “oportuna e inoportunamente” ( II Timóteo 4.2a.3). “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos” – Tertuliano. Crês que possa amar Jesus Cristo e por ele entregar sua vida? Ou apenas amas a Cristo e não tens coragem de entregar-lhe a vida?
Frei Paulo Ricardo Ferreira, O.Carm.
[1] Obras Completas – Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Manuscrito B, (O passarinho e a águia divina). Edições Loyola, São Paulo, 2001, pp. 216-217
[2] Cf. Manuscrito A, 56f
[3] Manuscrito C, 33v
[4]BOAGA, Emanuele. A caminho com Santa Teresinha do Menino Jesus. Ed. Loyola, São Paulo, 1997: p.49-50
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