“Se grande for a profanação, maior deve ser a missão”

“A Igreja não enfrenta a violência só porque foi agredida, mas enfrenta a violência porque o mundo ao qual ela serve em nome de Cristo está agredido. E a missão é a resposta, a forma que temos para enfrentar essa violência. A comunidade paroquial precisa se tornar ainda mais missionária e unida” – Dom Joel Portella Amado.

A Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Vila Kosmos (RJ), viveu momentos de profunda tristeza e angústia da tarde de quarta-feira (25/07) até a tarde de quinta-feira (26/07), devido ao roubo do sacrário da igreja Matriz, que em seu interior guardava hóstias consagradas.

A notícia que aliviou a todos e trouxe grande alegria e louvor a Deus chegou por meio de policiais do 16º Batalhão da Polícia Militar, que encontraram o sacrário inviolado, em perfeito estado, próximo ao Hospital Getúlio Vargas, num bairro vizinho ao da Paróquia. Os jovens que estavam com o roubo fugiram quando avistaram a Polícia Militar.

Durante a Missa de Desagravo, às 19h30, no dia 26, o Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Dom Joel Portella Amado frisou diversas vezes que o crime deveria ser visto como uma convocação à missão, em prol de um mundo com mais justiça social e menos violência.

Dom Joel: “O cristão nunca paga o mal com o mal”

“O cristão nunca paga o mal com o mal. Então, se grande foi a profanação, maior deve ser a missão. A paróquia tem a partir de hoje duas responsabilidades: primeiro, por amor a Jesus Eucarístico, ter um cuidado ainda maior do que já tinha com o sacrário; e segundo, mas nem por isso menos importante, tornar-se ainda mais missionária: padres, leigos, membros de Ordem Terceira… todos juntos, para que Jesus seja reconhecido, amado e adorado por todos”, disse durante a homilia.

O roubo

Muitas foram as histórias que circularam em redes sociais sobre o roubo, mas não continham o relato do que realmente aconteceu. Frei Reinaldo Paraíso, O.Carmo, Vigário Paroquial, contou à reportagem do site Carmelitas, como tudo realmente aconteceu.

“Pelas câmeras de segurança, vimos que um homem jovem, com um carrinho de supermercado, chegou à tarde do dia 25 em nossa paróquia, por volta de 15h19. Passou pelo portão, colocou o carrinho no estacionamento e tirou dele um saco preto. Subiu a rampa e entrou na igreja. Verificou que ela estava vazia, pois nosso funcionário naquele instante tinha ido buscar um material no interior do prédio. Seguiu então diretamente para a Capela do Santíssimo e permaneceu lá cerca de 2 minutos, saindo com o sacrário dentro do saco. Antes de sair, ainda verificou se a igreja estava vazia. Em dado momento percebe-se que ele ouviu um barulho. Assustado coloca o saco em cima do banco e deita-se no chão. Percebendo que não foi visto e que não havia ninguém no local, levantou-se, pegou o saco e saiu apressadamente. Desceu a rampa e colocou o sacrário disfarçado com o saco preto dentro do carrinho. Aparece então uma pessoa que estaciona o carro que não consegue ver o que ele leva no carrinho. O homem cumprimenta essa pessoa, vai até a frente da imagem de Nossa Senhora do Carmo que tem no pátio, faz o sinal da cruz e sai tranquilamente empurrando o carrinho, em direção ao bairro da Penha. Era por volta de 15h25. Toda a ação durou apenas 6 minutos. O furto foi descoberto um pouco depois, quando um fiel entrou na Capela do Santíssimo para rezar”, relatou.

Imediatamente a Paróquia acionou a Polícia do 27º Batalhão, responsável pelo patrulhamento da região, que passou a procurar o ladrão e o sacrário, com o objetivo de resgatar as partículas consagradas. Mas foram os policiais do Batalhão vizinho, o 16º, que encontraram o sacrário. Eles relataram que viram a reportagem sobre o roubo pela TV.

Desde que soube do ocorrido, toda a comunidade se uniu em oração e se mobilizou em busca de informações que pudessem levar  ao encontro de seu maior tesouro: Jesus Eucarístico, levado junto com o sacrário.

O encontro do Sacrário

Policiais do 16º Batalhão da Polícia Militar, que estavam de ronda no Bairro de Brás de Pina, avistaram no dia seguinte um grupo de jovens suspeito em uma área próxima ao Hospital Getúlio Vargas. Fizeram o retorno e resolveram verificar o que eles guardavam no local.

Ao avistarem a viatura da Polícia, os jovens fugiram, deixando para trás o saco preto no qual ainda estava, inviolado, o sacrário. Imediatamente os policiais o colocaram na viatura e o transportaram até a sede do Batalhão, de onde ligaram para a Paróquia Nossa Senhora do Carmo e solicitaram ao Frei Reinaldo que fosse reconhecer a peça.

Ao chegar no Batalhão, a feliz constatação: não houve violação. As hóstias consagradas estavam lá, guardadas, intactas. O sacrário não foi aberto, nem sofreu danos. Foi então levado de volta para a igreja.

“Os policiais me disseram que ganharam o dia ao resgatarem o sacrário e testemunharam sua grande alegria por o terem encontrado intacto. Pediram nossa bênção e nossa oração. Foi um momento de grande testemunho da fé e experiência do poder de Deus”, descreveu Frei Reinaldo.

Policiais no momento em que acharam o sacrário
Frei Reinaldo foi ao 16º Batalhão da Polícia Militar reconhecer e receber o sacrário inviolado

A Missa de Desagravo

Com a Igreja lotada na tarde de quinta-feira, dia 26 de julho, foi celebrada a Missa de Desagravo, presidida por Dom Joel Portella e concelebrada pelo Vigário Episcopal Padre Rogério Heleno Pereira Félix; pelo Frei Reinaldo Paraíso, O.Carmo, e Frei Alejandro Rocha, O.Carmo; e pelos demais sacerdotes presentes.

Em diversos momentos durante a Eucaristia, o presidente da celebração convidou os fiéis a se colocarem em um profundo silêncio e rezarem em louvor a Deus e contrição por todos os que, por desconhecimento do amor de Deus, não amam a Jesus e não o reconhecem nas partículas consagradas.

A Igreja ficou lotada durante a Missa. Fiéis rezaram em louvor a Deus e contrição por todos os que, por desconhecimento do amor de Deus, não reconhecem a Jesus

“Nesta Missa somos convidados a dizer a Jesus: se alguém não te reconhece, nós estamos aqui para te amar, servir e anunciar”, disse o bispo no início da celebração. “Trago um abraço carinhoso de Dom Orani ao povo e à Ordem Carmelita que cuida há muitos anos dessa paróquia. Que ao final dessa Missa possamos sair com o coração cheio de paz, ainda mais apaixonado por Jesus, dizendo: se o mundo é violento, eu sou de paz”, completou.

Em sua homilia, Dom Joel refletiu com os paroquianos que a grande dor do cristão diante de fatos como o ocorrido na paróquia deve ser perceber que há pessoas incapazes de reconhecer Jesus.

“Jesus, como é que alguém te pegou e te levou e não te reconheceu? Quando nos fazemos essa pergunta, chegamos à uma triste conclusão: existem ainda muitas pessoas nesse mundo para as quais Jesus não representa nada e um metal dourado chama mais atenção que o mistério descido do céu. Qual deve ser nossa atitude diante disso? Sermos missionários. Nunca, nunca, pagar o mal com o mal. A resposta do Evangelho nunca é violenta, é sempre uma resposta de perdão. Por isso, queremos, sob a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, ser ainda mais missionários; queremos te anunciar, Jesus, te testemunhar”, frisou.

Unidade e aprendizado

Frei Reinaldo: “Podemos novamente nos alegrar e transmitir essa alegria de termos Jesus em nosso meio a todos. Vamos em missão!”

Frei Reinaldo também falou aos fiéis e deu seu testemunho.

“Irmãos e irmãs, depois de um tempo de preocupação, de tristeza e de angústia para saber onde estava o sacrário com Jesus na eucaristia, tivemos a alegria de acolhe-lo novamente. Diante dessa situação, o quanto nós aprendemos, amadurecemos e temos que agradecer a Deus! Aprendemos com as pessoas, os fiéis, que deram seu testemunho de amor a Jesus… Aprendemos com o nosso bispo Dom Joel, que está aqui presente representando nosso arcebispo. Aprendemos com o Padre Rogério, nosso Vigário Episcopal e tantos outros sacerdotes e amigos que nos ligaram preocupados, nos demonstrando solidariedade. O ocorrido deixou triste toda a Igreja. Mas hoje podemos voltar o nosso olhar para Jesus com louvor e gratidão: Ele está no meio de nós! Podemos novamente nos alegrar e transmitir essa alegria de termos Jesus em nosso meio a todos. Vamos em missão!”, falou emocionado o vigário paroquial.

Ao final da missa, houve adoração ao Santíssimo Sacramento. Em seguida as partículas foram levadas em procissão e colocadas em um novo sacrário, na Capela lateral.

Uma paróquia Missionária

A Ordem do Carmo desenvolve uma ampla ação evangelizadora e um sério trabalho social na cidade do Rio de Janeiro, através da ação de suas pastorais, da  Associação Beneficente São Martinho e de outras obras sociais, tanto no centro da Cidade (na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro), como nos bairros de Vila Kosmos e Vicente de Carvalho, onde se encontra a Paróquia Nossa Senhora do Carmo.

Na igreja Matriz em Vila Kosmos, centenas de pessoas são atendidas toda semana com a farmácia comunitária. Além disso, a paróquia mantém um ambulatório com atendimento de profissionais voluntários como psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais e dentistas.

Outro serviço oferecido à comunidade é a agência de trabalho, uma iniciativa da Pastoral do Trabalhador, que faz um trabalho pioneiro há muitos anos com parcerias firmadas junto a agências de emprego e empresas, para as quais encaminha currículos de moradores da região.

Em conjunto com os Vicentinos, a comunidade paroquial dá assistência a dezenas de famílias, que além de serem acompanhadas mensalmente, recebem cestas básicas. E com o apoio da Pastoral da Saúde, pessoas carentes recebem cadeiras de rodas e fraldas geriátricas quando necessitam.

Crianças e jovens são também prioridade na paróquia, que mantém uma unidade da São Martinho (SM), na qual se desenvolve o projeto Educagente, com atividades de esporte, lazer, cultura e educação para 305 crianças e adolescentes. Aos beneficiários, a Ordem do Carmo, através da SM, oferece oficinas de informática, capoeira, aulas de música e canto, gastronomia educativa, judô e projeto ambiental (horta).