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Um santo jornalista

A Holanda foi ocupada pelas tropas alemães em 14 de maio de 1940 e, desde então, o país padecia sob o jugo do totalitarismo violento e fanático inspirado pela ideologia do Partido do Nacional Socialismo Alemão (Partido Nazista). No final da tarde fria de 19 de janeiro de 1942, dois agentes da Gestapo, a temida polícia secreta do regime nazista alemão, batem à porta do convento dos carmelitas na cidade holandesa de Nimega. Vieram para prender o Padre Tito Brandsma sob a acusação de, como assistente eclesiástico da Imprensa Católica holandesa, incitar os jornais e outros veículos de inspiração católica a desobedecerem a ordem emitida pelo Ministério Alemão da Propaganda obrigando a publicação de conteúdos de inspiração nazista que lhes fossem enviados.

Era verdade: revestido da autoridade que lhe foi conferida pelos bispos holandeses, há mais de um mês frei Tito percorria as redações, conversando com os diretores dos jornais católicos orientando-os, em nome da Igreja, a negarem ou, ao menos, identificarem como contrárias à Fé e Doutrina Católicas as publicações produzidas pelos nazistas. Nascido na cidade holandesa da Bolsward, na Frísia, no dia 23 de fevereiro de 1881, Anno Sjoerd Brandsma (esse era seu nome de batismo), cresceu numa família humilde, trabalhadora e de profundo sentimento católico herdado do pai, Tito, e da mãe, Tjitsje. De fato, dos seis filhos do casal, cinco ingressaram em Conventos, tornando-se religiosos e padres. Depois de uma curta experiência com os freis franciscanos, em 1893 Anno decide ingressar no Convento Carmelita de Boxmeer.

Como era costume na época, ao iniciar a etapa formativa do noviciado escolhe o nome religioso de Tito, em homenagem ao pai. Ao término desta etapa, emite sua primeira profissão religiosa, em 1899. Já durante o período de estudos preparatórios para o sacerdócio, frei Tito revelou o grande amor pela escrita e pelo jornalismo: traduziu para o holandês algumas das páginas mais importantes da obra de Santa Teresa de Jesus e fundou um Boletim Informativo para os Carmelitas holandeses. Terminados os estudos regulares, foi ordenado sacerdote em 17 de junho de 1905. Nesse tempo, manifesta o desejo de vir para o Brasil a fim de auxiliar os confrades de sua Província Holandesa que tinham assumido desde 1904 a missão de restaurar a Província Fluminense, em cujo território está também o Estado de São Paulo.

A saúde frágil (sofre de dores estomacais) faz com que seus superiores o desaconselhem do projeto. Decide então continuar os estudos em Roma, onde obtém o grau de Doutor em Filosofia pela Universidade Gregoriana no ano de 1909. Retorna para a Holanda e se torna professor de filosofia para os estudantes carmelitas. Segue escrevendo e, fiel à vocação jornalística, funda a revista “Rosas do Carmelo” para propagar a espiritualidade da Ordem do Carmo. Com a fundação da Universidade Católica de Nimega, frei Tito é convidado para compor o primeiro quadro de professores. Destaca-se no magistério de tal modo que é eleito Reitor Magnífico da universidade no ano de 1932. No ano seguinte recebe dos bispos holandeses o encargo de assistente espiritual dos jornalistas católicos da Holanda.

Por esse tempo, Adolf Hitler torna-se Chanceler da Alemanha, depois de envenenar o povo alemão com a ideologia nazista o que garantiu, eleição após eleição, o aumento das cadeiras do Partido Nazista no Parlamento. As ambições expansionistas de Hitler incluíam a Holanda, que não pode resistir à ferocidade da máquina de guerra nazista. Depois de ser preso pela Gestapo, frei Tito foi levado para o cárcere em Scheveningen, para o campo penal de Ameersfoort, ainda na Holanda e, posteriormente para Kleve e, finalmente, para o temido campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde sua saúde frágil não suportou o regime sistemático de agressões físicas e trabalhos forçados. Levado à “enfermaria” do campo de concentração, teve de servir como cobaia dos experimentos médicos realizados pelo “médico” do campo de concentração, Dr. Wolter, que ao constatar, depois de alguns dias, sua a profunda prostração, ordenou que lhe aplicassem a injeção letal.

Frei Tito ofereceu o tosco terço que confeccionou com pedaços de madeira à enfermeira responsável pelo procedimento que deu fim à sua vida. Era o dia 26 de julho de 1942. Seus restos mortais alimentaram o fogo dos fornos crematórios do campo de concentração de Dachau, inextinguível entre 1933 e 1945. Em tempos nos quais o jornalismo profissional é atacado violentamente para favorecer as odiosas “fake news” que borbulham dos pântanos mais malcheirosos da mentira e dos interesses escusos, o exemplo de frei Tito Brandsma brilha desde as maiores altitudes da Verdade – que é Deus – e continua inspirando e convocando para o apoio e respeito incondicional aos jornalistas que têm a missão de investigar, apurar e publicar a verdade dos fatos, por mais desagradável que ela seja. Até porque, a mentira que sempre agrada não é jornalismo, é propaganda: como aquela que os nazistas impunham que a Imprensa Católica holandesa publicasse à força. Imposição que encontrou a resistência de frei Tito, o que culminou em seu martírio em defesa da Verdade e da Fé.

Frei Tito foi beatificado pelo papa São João Paulo II no dia 03 de novembro de 1985, foi canonizado pelo papa Francisco no  dia 15 de maio, em Roma. Em nossa Paróquia, é o padroeiro do Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística e do Coral “Tito Brandsma”.

SÃO TITO BRANDSMA, ROGAI POR NÓS!

Frei Atanael de A. Lima, O. Carm